quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mais pictogramas


É mais ou menos consensual que o Metro de Lisboa tem uma boa identidade gráfica [1]. Desde o logo até à sinalética, passando pelos diagramas da rede, fazendo sempre um bom uso de um bom tipo de letra exclusivo e dos seus pictogramas originais.
Hoje reparei (acho que pela primeira vez) nos pictogramas colocados no início de uma escada rolante (no Cais do Sodré, já agora, e depois na estação Baixa-Chiado [2]) e decidi retomar este blogue, há muito abandonado.
Não morro de amores pelos de obrigação (de fundo azul), mas os de proibição obrigam-me a fazer aqui uma interpretação deles (ou de alguns).

Vejamos:
[3] e [4] – Estes são os mais tranquilos. Tenho apenas a dizer que no primeiro os dois senhores estão um bocado incomodados por estarem tão juntinhos, tanto que um deles apoia o pé onde não deve. No segundo temos uma publicidade camuflada à marca de calçado "croc".

[5] – Este pictograma é revelador: diz-nos que pessoas pequenas (se calhar crianças) com a cabeça muito grande e que tenham uma espécie de plataforma (ou almofada) por baixo dos seus traseiros não se podem sentar nos degraus da escada rolante. Provavelmente se retirarem a almofada já se poderão sentar… fica a dúvida.

[6] – Definitivamente o melhor de todos. Ele é um típico "dois-em-um" e diz-nos que:

a) senhoras que tenham saias muito compridas, que levitem ligeiramente e que tenham os seus dois membros superiores muito diferentes um do outro não se devem encostar à escada (o "modelo" deste pictograma, aliás, deve ter sido protagonista de uma cena destas: o seu vestido entalou-se no mecanismo da escada rolante e chegou ao fim da escada com um dos braços com várias fracturas expostas – daí ter os braços diferentes).

b) por fim, todas as pessoas pequenas (ou serão crianças?), que tenham um alto nas costas e uma das pernas extremamente comprida, não se podem sentar em cima do corrimão.

8 comentários:

  1. Não me parece de todo que o Metro tenha uma boa identidade visual. Creio até que é bastante fraca, assumindo uma série de pressupostos que não eram admissíveis na altura em que foi criada. Tanto que já mudou o nome das linhas, o nome das estações e já percebeu que esta identificação por cores interfere na forma de sinalizar o resto da informação de utilização e wayfinding (há a linha azul e informação a azul que pertence à linha amarela...). Mas a asneira está feita e a escolha da Wolff Ollins foi imposta pela administração (sem concurso ou qualquer justificação) pelo que era baixar as calcinhas e aceitar.
    É mau trabalho na marca e identidade, assumindo erradamente o mapa do Beck como referêncial (numa altura em que as linhas se tinham alargado e que tinha entrado imensa gente novano sistema que não o conhecia), mudando o nome às estações, às linhas ("linha gaivota"!!!!).
    Junte-se agora o facto de vender património colectivo a patrocinadores e é a balda geral (que a propósito, nós designers, tão preocupados com estas questões de identidade nada dizemos, apesar de se estar a vender património colectivo a uma empresa privada sem qualquer lucro para os utentes).
    É ainda importante ver que para o Metro a identidade se resume à marca: nunca teve preocupações em comunicar a sua melhor utilização por forma a que os pasageiros assumam comportamentos mais cívicos (por exemplo ficar parado do lado esquerdo nas escadas rolantes ou manter o som dos headphones na head de quem os usa). Tem agora uma experiência com o Ar.Co. que demonstra que isto não foi pensado na identidade, aparecendo sob forma de publicidade e sem qualquer ligação à marca ("o urso" será a melhor forma de tratar o passageiro que tem aqueles comportamentos porque a empresa nnca se preocupou em passar-lhe outros?). Os pictogramas são mais uma ideia avulsa, que não foi pensada inicialmente. O sr. ollins está feliz da vida pois comeu uns patos bem comidinhos (Metro, Carris, PT, tudo empresas públicas a contratar no estrangeiro só para curtir).

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  2. Concordo com a questão da confusão das linhas, dos seus nomes e de suas cores e concordo com a questão das estações "vendidas" a marcas e a empresas, etc. e tal.
    Não acho, ainda assim, que o Metro tenha má imagem. E repare-se que eu disse "é mais ou menos consensual".
    O tipo Metrolis (que nem sequer é da Wolf Ollins) é inatacável (excepto talvez o seu "y" que é um "u" com uma perna, mas que também – por inerência da nossa língua – nem sequer é usado) e grande parte do "bom aspecto" do Metro deve-se exactamente à sua tipografia.
    Este post era mesmo para desancar nos inenarráveis pictogramas que estão a anos-luz de distância do que era suposto existir num serviço público e que é pago por todos nós. São maus demais para serem verdade!
    (O Jóni falou num jantar pós-doutoramento, para reatarmos aquela experiência única no atelier dele… I can't wait! E levo o conta-fios)

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  3. tiras a tipografia (concordo que é muito boa e eu nem conhecia a Freda Stack/David Quay) e ficas com uma visão colonialista, tipicamente britânica: vamos ali a África atirar areia aos olhos dos nativos.

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  4. Meus caros: vou republicar os vossos comentários porque acho sempre estimulante ler coisas que me dizem respeito! Sempre vós direi que em alguns casos estou de acordo mas noutros não! Mas nem vou entrar por aí. Coisas há que foram ditas que não correspodem sequer à realidade. Eu fui o design manager do projecto e não me lembro de ter "baixado as vez nenhuma. Foi um trabalho longo, complexo, estimulante e sempre feito em equipa. Qual foi o património vendido? Acho sempre interessante a facilidade com que se fazem comentários sem se ter um conhecimento consistente sobre o que se está a falar... (já agora) O projecto, no seu todo, foi prémio do CPD e o tipo foi prémio europeu da European Society of Typography Designers Designers a que se juntou outro prémio à brochura de lançamento do projecto que inclui fotografias de Eduardo Gajeiro. Tenho feito algumas conferências no estrangeiro com este tema, nomeadamente no meio dos transportes mundial meio no qual é considerado um projecto de refência. MV lega, amigo e homónimo Luís Filipe: estou completamente de acordo em relação aos pi tigre as que comentas. Não é desculpa mas sim explicação: estes pictogramas são is que vêm de origem do fabricante das escadas mecânicas! Se já devíamos ter tratado do asunto? Sim, já mas os meios são limitados e não chegamos para tudo. Muitas outras coisas poderia dizer, contrapôr mas quis apenas dar alguns apontamentos para não ser fastidioso. Ao meu caro Gonçalo Falcão que julgo não conhecer sempre direi que é muito fácil criticar o trabalho dos outros...e também lhe digo (como sempre disse aliás) que talvez fosse interessante concentrar os as nossas forças e atenção nos vastos campos da sociedade onde o design ainda não entrou! Talvez fossemos mais úteis ao design e à sociedade. Um abraço. Luiz Filipe Trigo, Designer, responsável pelo Dep. De Design do Metro de Lisboa e docente de Design na ULHT.

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  5. ...parece haver algumas gralhas que não entendo porque apareceram no texto. Pelo facto peço desculpa!!! :)

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  6. Pela parte que me toca, Luiz, fiquei esclarecido e peço as devidas desculpas por não saber a origem dos pseudo-pictogramas!
    No entanto, eles são maus demais para eu me calar (daí o "post") e estão presentes em equipamentos do Metro de Lisboa e para o comum dos mortais eles são responsabilidade da empresa (e não do fornecedor das escadas rolantes). O Metro não se devia descartar dessa responsabilidade (como tu assumes, aliás). Abraço a ambos.

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  7. Certo Luís Filipe. Sendo que tu ou o Gonçalo, nestas matérias, não são "o comum dos mortais", digo eu! Assim sendo, se são tão exigentes perante o trabalho dos outros impõe-se que sejam exigentes na recolha da informação antes de emitirem opiniões. Um abraço (L. F. Trigo)

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  8. ah ah ah ah ah
    não consigo parar de rir com a explicação dada à imagem [6]....
    peço desculpa de não ter lido os 7 comentários a este post...
    queria apenas fazer uma correcção, não é uma senhora de saia muito comprida a levitar, é um padre! :)

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