
E começo por corrigir o título deste post que deveria ser: "Declaração de guerra à má utilização do Verdana".
Como alguém (cujo nome não sei mas gostava muito de saber) disse : Não existem nem maus nem bons tipos de letra: existem é más utilizações dos tipos.
Já toda a gente sabe que a maioria dos designers têm dois grandes ódios de estimação: o Arial e o Comic Sans. O primeiro porque é um clone (e muito mal feito) do Helvetica e o segundo porque foi desenhado para balões de um personagem que era o cão da Microsoft (o Microsoft Bob) e é usado em situações muito diferentes das dos balões de banda desenhada (porque não dizê-lo: até nos convites oficiais feitos pela direcção do instituto onde lecciono para, por exemplo, a abertura solene das aulas...).
Permitam-me acrescentar o Verdana. E por razões semelhantes às do Comic Sans.
Mathew Carter (type designer e autor do Verdana) fez um trabalho excelente ao desenhá-lo. Estava a responder a uma encomenda da Microsoft e cujo objectivo era fazer um novo tipo adaptado ao ecrã e, sobretudo, cuja legibilidade conseguisse resistir aos corpos pequenos, coisa que os tipos de letra comuns não faziam (pois não eram optimizados para a trama de pixels do ecrã).
Matthew Carter em vez de desenhar um tipo de letra sem restrições de desenho e que seria depois adaptado para os pixeis do ecrã (como a esmagadora maioria dos tipos existentes), teve a brilhante ideia de começar por desenhar as letras com pixels para depois as “embrulhar” com as necessárias curvas e formas típicas de um tipo de letra.
Matthew Carter conseguiu desenhar um tipo que se comportava muito bem nos corpos mais pequenos (em ecrã, ok?). À medida que se aumenta o corpo, porém, começa a notar-se o seu verdadeiro desenho. Veja-se a imagem em tamanho real.
Impresso em papel então é inenarrável. Sejamos sinceros: o Verdana não é um tipo harmoniosamente desenhado. As suas curvas são grosseiras e muitas das partes da letra não combinam entre si. Não porque Carter não soubesse como desenhar formas harmoniosas, mas pela função a que se destinava.
O próprio nome começa a mudar à medida que se aumenta o corpo e criam-se dois segmentos de recta verticais: um antes e outro depois do V (isto é uma private joke para os meus alunos).
Portanto, o |V|erdana como tipo de letra oficial do Ikea não convence ninguém.
Espírito Ikea (diz o MUPI)?
Já tinha havido bastante polémica quando resolveram mudar o tipo Futura do seu famosíssimo catálogo (tipo de letra marcadamente modernista e que reflecte bastante do espírito do mobiliário Ikea) para Verdana e eu estive caladinho. Agora é demais: Nos anúncios? Na sua comunicação oficial? No espírito Ikea? Deve ser um espírito "tosco" e desproporcionado, no mínimo.
Volto a dizer: Mathew Carter (coitado) não tem culpa nenhuma.
Sou grande admirador dele e é o autor do provavelmente único tipo de letra igualmente legível e elegante tanto em ecrã como em papel: o Georgia que é o deste parágrafo (para quando uma versão do Georgia com Lining Figures, Mathew?!).
Viva Mathew Carter!
Fora quem não sabe utilizar bem o Verdana.
(e desculpem lá a extensão deste post...)